Nesta terça-feira (27/08), o Programa de Pós-graduação Educação em Ciências e Saúde (PPGECS), do Instituto Nutes/UFRJ, abriu o segundo semestre de 2019 com o tema “Amorosidade e re-existência na educação do Brasil atual: construindo pontes e abrigos”.
A roda de conversa contou com a presença de Fernanda Antunes, professora da UFRJ, no campus Macaé, e do PPGECS, que trabalha com narrativas femininas e educação para as relações étnico-raciais.
Também esteve presente Henrique Vieira, pastor, ator, formado em teologia, ciências sociais e história e acabou de lançar o livro “Amor como revolução” (Cia das Letras). A mediação foi feita por Marcelo Bernardo, doutorando do PPGECS e professor de ciências.
O resgate da experiência pessoal e coletiva foi a tônica do encontro para localizar as pontes e abrigos na trajetória de Fernanda e Henrique. Nessa viagem, ambos refletiram sobre os processos de formação que acolhem, e dão uma nova perspectiva em que a capacidade de contar histórias e a arte potencializam os aprendizados sobre a vida.
Fernanda citou o direito à literatura como um Direito Humano e que ler poesia e textos literários em sala de aula é uma micro revolução. “A literatura é a linguagem do amor da vida”, declarou. Entre leitura e citações de textos de Conceição Evaristo, Mia Couto e Carlos Drummond de Andrade, a professora relembrou de sua infância em Recife, onde passou a se interessar pelas narrativas criadas pela sua avó.
Mais tarde, no Rio de Janeiro, encontrou outra mulher na escola em que estudava que lhe abriu as portas de muitas outras narrativas. Diariamente, Fernandaprecisava chegar mais cedo para as aulas – por conta do horário de trabalho de sua mãe – e passou a ter acesso à biblioteca. Sua trajetória foi relatada com o entrelaçamento de vários textos orais e escritos que teceram os sentidos e significados para pensar a educação. Atualmente, ela utiliza a literatura para o ensino de ciências. Dentre suas tarefas, está em construir com alunas/os espaços de escrevivência, em que a escrita traduz e reflete as vivências, as pontes e abrigos entre educando e educadores e com o mundo.
Henrique começou sua fala com uma experiência do Ensino Médio, em que o professor de história propôs trabalhar com o tema da loucura de forma interdisciplinar. Parte desse projeto, consistiu na visita ao antigo Manicômio da Frei Caneca, no Rio de Janeiro. O autor conta que esta visita modificou sua história, pois encontrou um jovem, como ele, que conversaram durante todo o tempo que passou no local como se os muros da instituição tivessem virado pontes. Ao final, o menino perguntou para Henrique para onde ele iria ao sair daquele lugar. Foi quando se deu conta que tinha uma casa, um lar, um abrigo. Passou, então, a se dedicar à luta manicomial e outras lutas, no campo do Direito Humano.
Com essa experiência, Henrique trouxe a provocação de que vidas são matáveis, citando Giorgio Agamben, e afirmou: “quando uma vida vale menos, a morte se torna ‘aceitável’. Há uma licença social para o seu desaparecimento, seu extermínio”. Nesse processo, perde-se as pontes de empatia.
Em outra situação, o convidado falou sobre a arte da palhaçaria, da qual também atua. Esse foi a ponte para abordar sobre a necessidade de retomar a qualidade de imaginar. Em muitos contextos, incluindo os escolares, essa possibilidade é boicotada. Daí, falou em criar espaços para o lúdico e a brincadeira.
Ao abrir a roda para os estudantes, os comentários reforçaram a urgência em trazer mais arte, como processo de conhecimento, criativo e reflexivo, para a sala de aula; de criar espaços para exercitar o amor nas pequenas coisas, nos detalhes, nas experiências, que não podem ser desperdiçadas; e manter ativo os lugares de refúgio.